Jabuticaba é bom pra quê? Conheça os benefícios da nossa joia nacional

 

Paulista de Araçatuba, o professor Paulo Cesar Stringheta passou a infância em uma fazenda repleta de jabuticabeiras. “Com muito cuidado, meu nonno fazia questão de apanhar os frutos e distribuir entre toda a família”, lembra. O avô temia que a molecada arrebentasse a árvore. Mal sabia ele que a turma aproveitava o escuro da noite para se esconder em meio aos galhos e saborear as jabuticabas direto do pé. Passadas algumas décadas, hoje Stringheta entende melhor o zelo do patriarca. Especialmente depois de tantas descobertas em seu laboratório no Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. De fato, essa espécie genuinamente nacional merece todo o cuidado e apreço do mundo.

Longe dos pomares, o pesquisador e sua equipe têm esmiuçado o vegetal e não param de se surpreender. “A fruta é rica em compostos bioativos com função antioxidante”, destaca. Na lista há a quercetina, o ácido elágico, além de estruturas químicas inéditas na literatura científica que fazem da jabuticaba uma variedade singular.

Outro ponto forte diz respeito à quantidade de antocianinas, classe de ingredientes responsáveis por sua coloração peculiar. O frutinho brasileiro oferece muito mais delas do que a uva, festejada mundo afora por essa razão.

A composição exclusiva serve de escudo contra intempéries quando o alimento está no pé, a exemplo de raios solares, variações climáticas e outros fatores oxidantes. Mas é ela também que torna o alimento majestoso. Tanta beleza atrai pássaros, auxiliando na perpetuação da espécie. Insetos são outros fregueses, inclusive vespas, como as que frequentavam a jabuticabeira predileta de Narizinho lá no Sítio do Picapau Amarelo criado por Monteiro Lobato (1882-1948).

Ainda é graças ao agrupamento de antioxidantes que tantos benefícios têm sido atribuídos ao fruto. Entre outras coisas, essas substâncias neutralizam os radicais livres, moléculas desemparelhadas acusadas de danificar as células e provocar estragos no organismo.

Não à toa, um dos projetos liderados por Stringheta é o desenvolvimento de uma bebida à base desses compostos. O preparado é destinado aos esportistas, grupo vulnerável à ação dos radicais.

“Avaliaremos o impacto do produto na recuperação dos atletas pós-jogo através da análise de parâmetros relacionados ao estresse oxidativo”, adianta o professor, que orienta o doutorado do pesquisador Jeferson dos Santos.

Em outro trabalho do grupo, realizado pela nutricionista Kellen Viana, foi possível verificar, em animais, o poder no equilíbrio das taxas de colesterol. Houve diminuição nos teores de LDL, a versão perigosa da partícula, e elevação nos níveis de HDL, a benéfica. É, portanto, uma frente conjunta para dar um chega pra lá no entupimento dos vasos sanguíneos, mecanismo que reduz o risco de infarto e outras complicações.

O mesmo experimento mostrou uma atuação contra o depósito de gordura no fígado, a tal da esteatose hepática. Trata-se de uma encrenca cada vez mais comum nos dias de hoje e que pode prejudicar pra valer o funcionamento desse órgão. Mancomunada com o excesso de peso, a esteatose ainda guarda relação estreita com um maior risco cardiovascular.

Mas digamos que a jabuticaba tem mesmo vocação frente ao acúmulo de gordura — em todos os aspectos. Uma notícia que ganha relevância com o avanço da obesidade. Estima-se que 54% dos brasileiros já estejam com uns quilos a mais. E vai longe o tempo em que a barriga de chope era vista como inofensiva.

Conforme a cintura fica larga, aumenta a propensão à chamada síndrome metabólica, uma coleção de perigos como pressão alta e diabetes. Isso porque a gordura estocada no abdômen se comporta como um tecido bem vivo, produzindo substâncias inflamatórias que colocam o coração e outros cantos sob ameaça. E quem diria que uma frutinha tão pequena se revelaria um gigante contra isso aí…

Nesse sentido, vale conferir alguns dos achados vindos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). Lá, o químico Márcio Hércules Moura avalia o potencial da jabuticaba justamente na prevenção da obesidade.

O pesquisador anda estudando compostos abundantes na espécie. Moura conta que animais que consumiram diariamente uma dieta cheia de gordura e açúcar, mas receberam juntamente um extrato da fruta, ganharam menos peso e gordura do que o grupo que ingeriu a mesma ração e água.

O trabalho foi destaque no Prêmio SAÚDE de Nutrição de 2017. “Além das antocianinas da casca, destacamos as proantocianidinas e os elagitaninos da polpa e das sementes”, descreve o cientista, que reforça a sugestão de degustar a fruta de forma integral. “Geralmente, as pessoas desprezam determinadas partes”, lamenta.

(Fonte: Veja Saúde)